sábado, 16 de outubro de 2010

Down

Título fraquinho, mas aqui vai
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Aquilo era por amor, a garota garantia para si. Suas orbes de ônix aparentavam cansaço e tristeza. Ela se via no espelho. Os cabelos ruivos caíam em cachos perfeitos sobre os ombros. O vestido florido não escondia as pernas magras. Os pulsos, frágeis e finos, estavam cobertos por gazes, escondendo sua vergonha. Cerrou os olhos, não queria mais a imagem desgostante.
Atrás das pálpebras, o foco de seu afeto, de sua dor. O garoto alto, de ombros largos e fortes, lábios cheios e macios. O cabelo negro e longo, preso em um rabo de cavalo mal feito. A pele morena aperfeiçoava os olhos quentes cor de chocolate. A barba, sempre por fazer, agradava a garota. Era engraçado, gentil, inteligente. Um músico, veja só. Mas, mais que isso, amava ela mais que tudo.
Apertou os olhos. Ainda assim, uma gorda lágrima escapou e rolou pela bochecha. Por que a havia abandonado, então? Lembrava-se da carta, a caligrafia do homem. Conseguiu um emprego, cruzaria o país. Precisava tentar, que não sentisse sua falta, adeus. Se soubesse, ela o acompanharia. Faria tudo por ele. Não devia amá-la de verdade.
Sentiu o peso do cruel pedaço de metal na mão. Precisava ser feito.
“Levaste meu coração, toma aqui minha vida. Adeus.” escreveu em um pedaço de papel, endereçou-o. Alguém, um dia, encontraria.
Levou o instrumento a boca. Sentiu com a língua o gosto férreo. Não podia ser feliz sem ele. Engatilhou a arma. Aquilo era por amor, perguntou-se. Tarde demais. O gatilho já havia sido puxado. Pensasse melhor antes. O estouro da arma reverberou madrugada afora. Cessaram as dúvidas, assim como a vida da linda garota.


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Momentos depressivos pedem textos deprimentes. Não se preocupem, é só um conto(não sei se é essa a classificação, mas tudo bem).

Cristina Müller.
Beijos.

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