sábado, 28 de agosto de 2010

Imitação

Algumas palavras não pertencem ao seu significado. Elas não cabem ao que designam, não servem pra dizer o que é desejado. Lia hoje Veríssimo – sua crônica, “Defenestração” - quando senti que era meu dever copiá-lo. Sua ideia era brilhante demais. Não pude ser parada. Bom, vamos tentar alguma linearidade aqui.

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A mulher se chamava Aletria - nome dado em homenagem a Princesa da Pérsia - e vivia bem, em uma casa funfulhada de mobília. Seu marido, Selênio, estava indisposto naquele dia. Era Alfajór Real – comandante de um navio inglês – e não poderia viajar. Sua mulher lhe preparava um chá de Sicofanta, a erva amazônica que diminuía a náusea.
-Aletria, traga-me o patusco, acho que vou vomitar. - ele pendeu a cabeça para o lado, tentando conter o enjoo. Não adiantou, todo o insopitável que ele comeu no almoço saltou de sua boca e foi parar direto dentro do patusco que a mulher lhe havia trazido. - acho que o que me fez mal foi o que comemos no almoço.
Comeram arroz e frango com asco – um tempero indiano famosíssimo. Aletria também não se sentia muito bem, mas não comentaria isso com o homem. Chamara um Sacripanta – padre do alto clero - pra ungir sua casa e família. Afinal, é para isso que serve a igreja. Este lhe dissera que as vacas sagradas indianas, as Sevandijas, são a melhor forma de proteger a morada contra infecções intestinais. Comprou uma.

No dia seguinte, o Alfajór Selênio sentia forte dor nas gengivas. Procurou um Mastodonte para descobrir a gravidade de seus problemas dentários.
- É grave, Doutor?
- Muito – ele franziu o cenho, preocupado – o senhor terá de fazer uma operação de bilontra.
- E ela é complicada?
- Um bocadinho. Teremos que abrir duas interceptações em sua gengiva e bilontrar a parte superior delas. - ele esgrouvinhou os lábios um pouquinho – não deve demorar mais de duas horas.
- Faremos, então.

Semanas depois, o Alfajór, já melhor de saúde, voltou a trabalhar. Sua mulher, Aletria, nunca mais usou asco como tempero. A vaca Sevandija pastava feliz nos campos da casinha do interior em que moravam. A consuetudinária paz voltou a suas vidas.
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Não me agradou tanto quanto esperava. Desaprovem, por favor. Acho que vou dormir, beijos.

7 comentários:

  1. A vaca Sevandija pastava feliz nos campos da casinha do interior em que moravam HAHAHAHAHA

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  2. sou o anônimo


    beijos,
    Luiza

    (tive que postar pra rir do alfajor, isso é um doce, não seria alferes o cargo?)

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  3. Brincando com palavras: sei que alfajór é um doce, Sevandija é um parasita, sicofanta é patife, etc. :D

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  4. Hahaha, aprovo! Recomendo, no mesmo estilo, "Palavreado" e, ainda melhor, "Mais palavreado", os dois também do genial Luís Fernando Veríssimo. Descobri o segundo no livro "Desacordo Ortográfico", recheado de crônicas que fazem tanto sentido quanto essas

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